sábado, 22 de março de 2008

Gente. Muita. Todo o Mundo aqui.
Gente que canta na rua, que fala com quem não conseguimos ver. Gente a correr, sempre e cada vez mais. Gente que entra e sai dos sítios onde se come com ritmo de maratonista. Os ténis estão lá, a meta também.
Mais gente, ainda mais rápido, mais, mais e ainda mais.
Gente sem calma para perder tempo a explicar o que se não percebeu à primeira.
Gente que mantém a todo o custo a cara que diz aos outros que está tudo bem. Todos sabem que não está.
Gente com um entusiasmo podre na voz. Usam-na para emitir mais sinais aos do outro lado para que não se preocupem.
Gente que, por vezes, suscita algum interesse. Não saber o que fazer com isso. E sempre a voz, lá atrás, a garantir que está tudo bem. Não ter a certeza absoluta disso.
Fazer um esforço para que os olhos não descaiam, para que não digam "se calhar não está tudo bem.." Manter a postura. Corrigi-la um milhão de vezes. Uma mais ainda. Hesitar entre o desleixado e o rígido repelente de contacto.
Com a cara a mesma coisa.
Tentar perceber com que expressão estamos. Oscilar entre o fácil e o demasiado disponível e o ausente e o inalcansável. Cansaço. Tentar percer tudo isto nos outros. Alívio. Não muito.
Querer o meu canto. Ser arrancado de lá com um "Então? Não falas? O silêncio como coisa má. O objectivo é exterminá-lo.
Muitos filmes na cabeça. Falta o abraço do sofá de sempre e o comando para mudar de canal ou desligar.
Gente.
Muita.

2 comentários:

Queen Frog disse...

E se a verdade é que somos seres de relação, que nos definimos e balizamos nos outros, o que sabemos é que somos sozinhos.
Tendo que sair de nós, em procura de nós nos outros, sempre carregamos as nossas máscaras (q temos no armário para cada ocasião). Máscaras que são os nossos medos.
E imagino q numa grande cidade este exercício entre a verdade de nós próprios e o q damos a conhecer de nós, seja um espaço de crescimento com muito noise pelo meio:) E já n sabemos da verdade de nós, q surge tb na relação c os outros. Q canseira...Os outros cansam, nós cansamo-nos da nossa prestação social.
E o conforto do sofá...é por vezes um refúgio, outras um exercício de lucidez:)

Bem, acho q já usei tds os clichés possíveis:) Ainda assim, é um comentário mto perto do q sinto.

Abraço, muito, muito fORTE.

Cristal disse...

Hello!

Realmente também senti algo parecido quando fui pela 1ª vez a NYC: todas aquelas pessoas com roupas formais a caminharem que nem máquinas do metro para a superfície, olhar fixo, cheio de objectivo mas, por vezes, sem emoção...

Que estejas bem dentro de ti: esse mundo impossível de banir, sempre presente a criar novos eus!

beijinhos Joana

P.S.: Logo esta 2ª feira que está aí não vi o '6 graus' pois a minha tia fez anos e estivémos a conviver. Logo agora que me relembras outra realidade também novaiorquina.