quinta-feira, 27 de março de 2008

Meu amor,


Acordei a pensar nesta carta – uma tarefa sistémica que, dizem, faz-nos sentir como afortunados com a vida: a Carta de Gratidão – e talvez com a culpa atrás do meu cérebro comecei a pensar a quem escrever. Nos últimos meses as minhas cartas não têm sido propriamente de gratidão, até aquelas que te tenho escrito, mas de libertação e de imposição de limites ou de desculpas, mas eu própria estou muito grata a mim mesma por isso ter acontecido e pelo teu apoio em todo o processo. Pensei em quase toda a família, e até em amigos, mas rapidamente não tive dúvidas que a única pessoa a quem me apetecia realmente agradecer és tu... sem culpas por trás.

Nem sei por onde iniciar. Mesmo sem seres igual a mim, temos muitas pontes de contacto e considero a nossa relação suficientemente flexível para se tornar desafiante e duradoura. Admiro-te pelo homem que és: sensível e forte, e considero essa conjugação uma obra de arte. Adoro poder trabalhar em equipa, e por tu me fazeres notar quando me estou a desviar da colaboração contigo. Agradeço-te eternamente por isso, pois, apesar dos hábitos de batalha e domínio que trago comigo, pretendo fazer diferente o resto da minha vida, e só utilizar as minha capacidades bárbaras em caso de emergência. Penso que isso fará melhor ao meu coração.

Como gostas que seja concreta e não que veja em ti abstrações – apesar de o facto de ver esses símbolos em ti ser uma façanha que se deve ao teu próprio eu em conjugação com o meu – vou tentar discriminar o que agradeço em ti, as características da tua forma de ser que me trazem paz à minha vida.

A tua calma, mesmo que a consideres aparente, a verdade é que tem-na em muito mais quantidade do que outros que tentaram ser meus íntimos e isso torna-me, complementarmente, uma pessoa mais ponderada. Obrigada por isso. O tempo, a disponibilidade e o silêncio permitem-me amadurecer, ao contrário da emergência constante que só me fez sobreviver.

O facto de ponderares cada decisão como se fosse a última da tua vida, quer seja uma mudança de emprego quer seja um telefonema a uma instituição qualquer, permite-me sentir como a vida é importante e como estamos em cada instante a modificá-la e não simplesmente a fugir em direcção ao infinito, devido ao medo de morrer, sem ter sentido alguma estabilidade de experiência.

Quando me pedes toda a minha atenção disponível para te escutar apoias-me no desenvolvimento da minha capacidade de autenticidade, ao invés de uma superficial abertura e espontaneidade que se baseia mais na impulsividade que na boa economia de forças.

Poderia continuar infinitamente, pois como já te disse és deveres diferente das pessoas por onde já me experimentei, e por isso me tornas uma outra pessoa, com pele transparente por ser feliz.

No entanto, gostaria de agradecer particularmente pela paciência que comigo tens no amor físico, e de novo a tua flexibilidade, pois começaste a dançar, a cantar e a ler comigo e para mim, e isso fez-me sentir com intensidade e realidade, mais do que simplesmente treinar a sensualidade pela sensualidade. Por vezes, o caminho para uma determinada expressão de amor é passar por outras e tu fazes isso na perfeição e esperas até a flor despontar na estação certa.

Com muito carinho

1 comentário:

Queen Frog disse...

Cristal,

E como dizemos tão pouco a gratidão. Nas palavras, nos gestos.

"esperas até a flor despontar na estação certa."

Lindo, lindo...

Ah, e welcome back :) Beijinhos