quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2009

Nada como entrar no ano novo sentindo-me miseràvel
è a confirmaçao maxima que quer queira, quer nao
o proximo ano serà melhor.
pior tambem nao fica.

"nascida em todos os sitios
onde o sol esqueceu-se de bater
hoje sou a mais triste das mulheres."

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Da crueldade absoluta da lucidez de um dia limpo e estéril.

E quando falar cansa mais que interessa?
E quando se procura um refúgio que não há para um olhar que se desvia?
E quando se investe para que o ar saia formando sons e não se sabe se o fôlego chegará até ao fim?
E quando tem de se provar que se está bem, mantendo um entusiasmo na voz que não nos pertence?
E quando tudo o que se tem não basta nem mesmo quando se pensa que tanta gente daria tudo para tê-lo?
E quando as coisas simplesmente não nos interessam por mais interessantes que sejam, por mais que se abram os olhos e se incline o corpo como que a dizer "sim, estou mesmo aqui, estou mesmo interessado no que me contas"?
E quando a insatisfação é uma coisa que se agarra? Quando é quase mais um braço?
E quando o sangue percorre caminhos que sabe de cor e na escuridão dos momentos acumulados pára exactamente onde se sabia que pararia e se transforma em tudo o que não se quer pensar?
E quando se sente que nos sentem diferentes e se faz um esforço para que seja para melhor?
E quando já não se sabe mais o que será melhor?
E quando erros que já pensávamos ultrapassados nos acenam do fundo da sala e se finge não se ter reparado?
E quando já nem é tristeza que se identifica mas resignação?

E quando se fazem as coisas na esperança de voltar a sentir o que já uma vez se sentiu e o resultado é uma cópia já muito gasta daquilo que já uma vez foi?
E quando se duvida sobre se alguém alguma vez fará as perguntas certas?
E quando se contam mais uma vez as mesmas estórias evitando-se assim surpresas?
E quando se faz o que sempre se quis e ainda não é bem aquilo?
E quando até o ar nos queima?
E quando é preciso arrumar a cara para que corresponda ao que se acabou de saber?
E quando o cansaço provocado por tudo isto já é muito pouco suportável?
E quando os outros são paredes onde se esbarra quando se tenta agarrar qualquer coisa mais dentro?

sábado, 25 de outubro de 2008

M.S.

hoje sou a réstia, o corpo e a ameaça
o rasto de luz que fica da estrela cadente
sou estrela ascendente

hoje sou a moedinha encontrada
moedinha que deixas no fundo da carteira para dar sorte

hoje sou a primeira a cortar a meta
mas sou a que mais disfrutou da viagem

hoje sou um bando de passaros
um bando enorme de passaros brancos amarelos verdes azuis e laranjas
passeio pelo céu tão meu
hoje eu sou esse céu

hoje sou a água dos potes levados ás aldeias remotas
sou os barcos todos
pelos mares e rios
e desaguo nas avenidas praças e campos de milho

sou tudo a pulsar ao mesmo tempo

Hoje sou amada por ti
Como nunca fui e nunca serei

Hoje sou mulher
Gero um filho que me ofereceste
Ofereceste sim

Oferenda és tu meu amor
pa meu

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

sábado, 9 de agosto de 2008

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Dos guilty pleasures

Pensar em alguém que pertence ao passado mas que em determinado momento desempenhou um papel fundamental na nossa vida envolve doses iguais de dor e prazer. É essa a razão pela qual persistimos em deixar o pensamento resvalar para aquela memória toda especial que sabemos que nos vai fazer estremecer, por nos tocar num lugar que só o requinte do detalhe da memória possibilita.

Há sempre aquele momento que acontece depois de relembrarmos as coisas mais superficiais e (aparentemente) não tão importantes que nos faz reviver com a força de um momento presente um conjunto de sensações que temos a certeza não serem muito produtivas para as horas que se seguem mas que mesmo assim nos damos ao luxo de as reviver uma outra vez.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Do verbo gostar

Nunca, mas nunca, vou entender a forma como conjugas o verbo GOSTAR. Como o dizes dentro de ti quando o sujeito sou eu.
Não, não me digas que és "assim" com os "outros". Dá-me vontade de vomitar quando me dizes isso! E juro-te que não é um exagero poético. Tenho mesmo vómitos!

E tu sabes que se eu fizer muito esforço, talvez consiga entender. Aceitar esse teu gostar. A verdade é que não quero; não posso.

Se te permitir gostar assim de mim, sou eu quem deixa de gostar de ti!

sábado, 21 de junho de 2008

quinta-feira, 19 de junho de 2008

passagem

"Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer,
a enjoar,
a cortar,
a roçar,
a ranger,
A dar vontade de dar gritos,
de dar pulos,
de ficar no chão,
de sair para fora de todas as casas,
de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos,
e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso, Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida. "

trecho de Passagem das Horas - Alvaro de Campos

sábado, 14 de junho de 2008

If you try the best you can*

No mesmo dia em que se completaram dois meses da minha chegada a Barcelona assisti a um concerto único e memorável de Radiohead. Ainda por cima, tive direito a entrada gratuita. Apenas no próprio dia me dei conta de que faziam dois meses que estou por cá e inevitavelmente encontrei em tudo isto uma oportunidade de celebração! Minha, muito minha...
Não me preocupei em fazer balanços, mas a verdade é que ver-me fora dos cenários e das desculpas habituais tem feito com que eu esteja mais perto de mim mesma e em consequência, mais perto do mundo e do contacto com os outros. É incrível sentir a quantidade de coisas que tenho para dar e a enorme capacidade que tenho para receber. E há dias em que este sentir me dá uma imensa e serena felicidade.
Há momentos em que me sinto esmagada pelo cansaço, em que me apetece voltar à redoma, ao meu quarto e às paredes que facilmente crio à minha volta. Mas a luta comigo própria, conciliada com uma certa capacidade de me perdoar (e não desresponsabilizar) têm-me feito estar por cá...e sentir que "the best you can is good enough" **.



* ** Optimistic, Radiohead

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Onde está a nossa face?

Tenho sempre esperança e por isso acredito que amanhã algo melhorará. Aspiro a algo novo, nutritivo, que me transforme a vida em algo ainda mais belo e flexível. A flexibilidade contém a rigidez mas o contrário não é verdade. Uns meses parece que um travão oculto pára tudo o que está para acontecer, tudo o que depois de 9 meses quer ser dado à luz, noutros meses a vida mexe-se a meio gás, e noutras alturas tudo acontece em catadupa.

Será querer controlar, desejar que o equilíbrio seja maior? Será mania da dominação desejar fluir mais num ritmo um pouco mais lógico, arrisco a dizer natural.

Onde é que estão as fases da vida, os rituais de passagem, as aventuras dadoras de talentos? Onde está isso tudo numa sociedade que nos presenteia com quilogramas de informação para digerirmos durante toda a vida, às vezes, sem nos movimentarmos, às vezes sem construirmos algo simples que seja que transmita a nossa face?

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Magia

E quando encontras a solução para a tua vida mas não te entendem?
Como guardar para nós a descoberta? É isso natural?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

És mais belo que o relinchar de um potro na montanha.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A primeira pessoa a entrar em contacto depois do sexo é sempre a que se fode forte e feio?

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Continuo a deixar acontecer pouquíssima intimidade. Os outros, salvo raras excepções, como paredes inultrapassáveis com quem não consigo comunicar a um nível que me satisfaça plenamente. Cansaço a minar-me o corpo.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

E quando tudo parece adormecer?

Fala-se muito do poder da consciência. Mas que dizer quando o corpo está cansado, a mente tem rédea solta e em vez de pensar rumina? Quando as relações mostram o seu lado automático e dizemos coisas por dizer. Não seria melhor adormecer?

Adormecer é dar ritmo ao vivido, é a pausa na melodia, a estátua do movimento, a beleza sintetizada.

Eu reinvidico o direito a adormecer em tranquilidade e com a mesma dignidade do estado de vigília! Afinal é só outro estado da consciência, quem sabe bem mais inteligente...

Sinto actividade, som, queixas, cheiros, movimentos, teorias, crenças, lições, análises... E o caos apodera-se de mim. Só no sono o caos é suave no final, mesmo que acordemos em sobressalto - no final tudo está bem. Habitamos um corpo e ele habita-nos dando-nos o seu calor.

É pena ainda não terem inventado um modo de esse calor ser a nossa forma de auto-sustento pois procurando sem fim o dinheiro tornamo-nos gelados ou simplesmente explosivos quase a estoirar...

Dizem-nos que as respostas estão todas em nós que temos o(s) universo(s) dentro, mas olhamos à volta e se necessidades não estão satisfeitas tudo isso parece uma anedota diabólica, tudo nos faz querer mais e o desespero - mesmo com a sua maldita beleza - no mínimo faz-nos adormecer e no máximo enlouquecer.

Digo isto não porque me sinta uma deusa, uma rainha nem uma órfã ou pobrezinha mas porque a tranquilidade não me vem ainda naturalmente... Mas continuo a esperá-la,em forma de paradoxo: ansiosamente...

quinta-feira, 29 de maio de 2008

terça-feira, 27 de maio de 2008

E agora?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Do vil metal

Sabes que estás pobre quando quase tens um orgasmo ao passares pelo caixote do lixo e vês uma secretária toda fodida com apenas uma perna e olhas para ela durante 4 segundos como se fosse a coisa mais linda em que alguma vez puseste os olhos.

segunda-feira, 19 de maio de 2008


Mais uma festa de Dança na cidade. Mil razões para celebrar. Mais umas quantas para mexer o corpo de todas as maneiras e mais algumas. Mais uma vez algo me impede de participar. Continuo escondido por detrás de uma máquina/escudo em pulgas para saltar para o meio da roda e dançar como se ninguém estivesse a ver. Não o faço. Tento perceber porquê. Desisto. Continuo polícia de mim. Aguardo silenciosamente que alguma coisa corra mal. Acabo com a sensação que não havia razões para tal. Prometo-me que para a próxima será diferente. Arranjo desculpas para o que não fiz. Todas gastas já, no entanto, mais fortes que qualquer outra coisa ainda por vir. Tão contraditória esta euforia que me chega com a atenção alheia e a incapacidade de fazer o que quer que seja quando finalmente a tenho.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

"Carta de Amor Informático"

Penetraste no meu coração

Como um vírus no meu processador

Vindo de lado nenhum
Ofereces-me agora
O vazio da não opção

Estragaste-me o real
Obrigaste-me a reinventá-lo:
Para quê?

Agora estás
No meu cemitério de textos
Já não te posso reencaminhar

Arquivei-te no lixo da memória
Do meu Pentium IV
Que aliás já vendi

Troquei-o por um lap top*
Mais leve
Mais portátil
Mais facilmente descartável

Ana Hatherly


* o que tu não sabes, nem precisas saber, é que for falta de hábito já lhe viciei a bateria. Falha-me sempre quando mais o necessito!


terça-feira, 13 de maio de 2008


Cada segundo que pasa
Cada espacio en que no estás
Tu ausencia perfora mi alma
Me asesinas sin piedad
Intento pensar
Pretendo olvidar
Pero me atrapa la realidad
Una verdad que me ataca
y me pone a suplicar

sexta-feira, 9 de maio de 2008

no te salves

No te quedes inmóvil
al borde del camino
no congeles el júbilo
no quieras con desgana
no te salves ahora
ni nunca
no te salves
no te llenes de calma
no reserves del mundo
sólo un rincón tranquilo
no dejes caer los párpados
pesados como juicios
no te quedes sin labios
no te duermas sin sueño
no te pienses sin sangre
no te juzgues sin tiempo
pero si

pese a todo
no puedes evitarlo
y congelas el júbilo
y quieres con desgana
y te salvas ahora
y te llenas de calma
y reservas del mundo
sólo un rincón tranquilo
y dejas caer los párpados
pesados como juicios
y te secas sin labios
y te duermes sin sueño
y te piensas sin sangre
y te juzgas sin tiempo
y te quedas inmóvil
al borde del camino

y te salvas

entonces
no te quedes conmigo.


No te Salves - Mario Benedetti
não pude resistir, oiço esta voz o dia inteiro
a sussurar
a desejar
...y te piensas sin sangre.....
...no te quedes conmigo...

sábado, 3 de maio de 2008

(...) mi estrategia es

que un día cualquiera

no sé cómo ni sé con qué pretexto

por fin me necesites

sexta-feira, 2 de maio de 2008

sexta-feira, 25 de abril de 2008

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Ocasionalmente (mais vezes que as que gostaria) sinto mesmo que o meu tradutor interno é venezuelano e que em vez de fazer o seu trabalho foi beber uma cervejinha ou fazer figuração numa qualquer novela do seu país cujo título não deve andar muito longe de "Corazon Molestado", "Se Nos rompio El Amor" ou "Ganas de Vivir", tal é o tempo que decorre entre o que me dizem e eu percebê-lo de facto. Posto isto, a pergunta que se impõe é: Quantas vezes será aceitável pedir para repetiram uma coisa que não percebemos à primeira?

domingo, 20 de abril de 2008

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Está uma chica à procura de um chico, e....

Desde que aqui cheguei, só ouço dizer que Barcelona está cheia de mulheres bonitas. Que os homens giros são gays. Que aqui só se safam as lésbicas.

Joder!

Não sabiam avisar antes de eu vir para cá viver?!!!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Da cultura geral

-So, where are you from?
-I'm from Portugal.
-Oh! Crisstiénóu Rounaldóu!
-What about you?
-Israel!
-Oh.. Jesus!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Do desconforto

Ainda não me decidi sobre se gosto ou não de deixar alguém desconfortável...

sábado, 12 de abril de 2008

Das grandes dúvidas

Sou só eu ou mais alguém fica com as virilhas num oito, só para não tocar com os joelhos na pessoa que está sentada ao lado?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

!Hasta pronto!

Olá J.

Não, não venho reclamar que me dês atenção no msn. Ou que há meses que andas a prometer escrever-me um email.
Também não vim cá para te dizer que já nem me lembro a última vez que tivemos juntos e que isso é mentira, porque me lembro perfeitamente.
Nem dizer-te que já não me fazes falta. Que não penso em ti todos os dias, como pensava. Que passo até semanas sem pensar em ti. Contigo deve acontecer o mesmo. Claro que me pergunto se sentes saudades e se pensas em mim.

Mas a verdade é que tudo isso não quer dizer nada. Porque há sempre um espaço de ti por habitar em mim. Que permanece. Que não deixarei nunca que ninguém ocupe! E que isso não tem nada de fatalista nem dramático porque já se foi toda a mágoa. Resta talvez alguma tristeza que sempre envolve as coisas impossíveis. Porque as criamos e recriamos durante tanto tempo que se esvanecem...Mas o carinho tanto e imenso existe, intacto e perene!

E mais tretas não digo, porque no fundo o que vim aqui mesmo dizer é que no Sábado parto para Barcelona, para onde vou viver até quando não sei! Que espero, me possas e queiras visitar lá.

E que estejas bem e que te preserves!


Beijinho na alma. Ainda e sempre!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Dançando com o cortinado e integrando a vida




Sentindo o momento, o vento e a minha própria existência no fervilhar interior de olhos fechados e membros vivos, penso na vida e nos pólos em que pessoas, famílias e circunstâncias me foram colocando...

Denomino esses pólos: pólo arrogância, pólo humildade.

Mas não sou os dois ao mesmo tempo e às vezes sou. Encontro-me humilde quando nem penso nisso e arrogante quando pela força de acreditar quero mudar tudo à minha volta.

Submissão, controlo, poder, liderança, conformismo, rebeldia, escravidão, arrogância, simplicidade, maturidade, inocência, mentira, infantilidade, verdade, dominação, confiança, insegurança, intensidade, impulsividade, força, vulnerabilidade...

Encontro-me em todas estas palavras...

Fui sendo colocada, primeiro por outros e seguidamente por mim mesma, em posições de ordem e caos, de loucura e lucidez.

Mas eis que hoje senti que é só uma das posições onde como ser humano existo, e que, talvez tenha dado demasiada importância ao que outros deram importância, por hábito, por defesa, por confronto...

Pensei: Todo esse mundo semântico pode ser resumido, integrado e melhorado com a ideia de poder pessoal, criação própria, responsabilidade pela própria vida... e no momento em que errar quero deixar a vergonha de lado e contar a minha própria história. Aceitando a mudança mas dirigindo-a até onde é possível e natural.

Quis dizer a todos os que me conhecem: eu responsabilizo-me!

E aqui fica o pensamento, a vontade, a iniciativa: responsabilizo-me!

sábado, 5 de abril de 2008

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Gostava de já estar naquela altura em que o meu inglês não me permitisse mais lembrar-me de como era quando ainda não o dominava. Como ainda não estou, ainda há muita coisa que me escapa. Resta-me ouvir e estar, ainda mais, atento à comunicação não verbal. E isto é tão fascinante como assustador.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Quando se sente alegria por se estar a lavar a loiça do jantar é porque as coisas estão a correr bem, certo?

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Desabafo

Passo-me! Mas passo-me dos carretos (para não dizer "cornos", que não os tenho!) quando há pessoas que confundem sinceridade com o exercício desmedido e repetido do seu egoísmo e portanto, com a desculpa de estarem a ser sinceras, (se)dizem sem olhar aos sentimentos do Outro.
E como sou do Norte e aqui dizemos palavrões, digo "Ai esta merda!" (para não dizer "Ai o Caralho!", que não o tenho!)

sexta-feira, 28 de março de 2008

""

quinta-feira, 27 de março de 2008

Meu amor,


Acordei a pensar nesta carta – uma tarefa sistémica que, dizem, faz-nos sentir como afortunados com a vida: a Carta de Gratidão – e talvez com a culpa atrás do meu cérebro comecei a pensar a quem escrever. Nos últimos meses as minhas cartas não têm sido propriamente de gratidão, até aquelas que te tenho escrito, mas de libertação e de imposição de limites ou de desculpas, mas eu própria estou muito grata a mim mesma por isso ter acontecido e pelo teu apoio em todo o processo. Pensei em quase toda a família, e até em amigos, mas rapidamente não tive dúvidas que a única pessoa a quem me apetecia realmente agradecer és tu... sem culpas por trás.

Nem sei por onde iniciar. Mesmo sem seres igual a mim, temos muitas pontes de contacto e considero a nossa relação suficientemente flexível para se tornar desafiante e duradoura. Admiro-te pelo homem que és: sensível e forte, e considero essa conjugação uma obra de arte. Adoro poder trabalhar em equipa, e por tu me fazeres notar quando me estou a desviar da colaboração contigo. Agradeço-te eternamente por isso, pois, apesar dos hábitos de batalha e domínio que trago comigo, pretendo fazer diferente o resto da minha vida, e só utilizar as minha capacidades bárbaras em caso de emergência. Penso que isso fará melhor ao meu coração.

Como gostas que seja concreta e não que veja em ti abstrações – apesar de o facto de ver esses símbolos em ti ser uma façanha que se deve ao teu próprio eu em conjugação com o meu – vou tentar discriminar o que agradeço em ti, as características da tua forma de ser que me trazem paz à minha vida.

A tua calma, mesmo que a consideres aparente, a verdade é que tem-na em muito mais quantidade do que outros que tentaram ser meus íntimos e isso torna-me, complementarmente, uma pessoa mais ponderada. Obrigada por isso. O tempo, a disponibilidade e o silêncio permitem-me amadurecer, ao contrário da emergência constante que só me fez sobreviver.

O facto de ponderares cada decisão como se fosse a última da tua vida, quer seja uma mudança de emprego quer seja um telefonema a uma instituição qualquer, permite-me sentir como a vida é importante e como estamos em cada instante a modificá-la e não simplesmente a fugir em direcção ao infinito, devido ao medo de morrer, sem ter sentido alguma estabilidade de experiência.

Quando me pedes toda a minha atenção disponível para te escutar apoias-me no desenvolvimento da minha capacidade de autenticidade, ao invés de uma superficial abertura e espontaneidade que se baseia mais na impulsividade que na boa economia de forças.

Poderia continuar infinitamente, pois como já te disse és deveres diferente das pessoas por onde já me experimentei, e por isso me tornas uma outra pessoa, com pele transparente por ser feliz.

No entanto, gostaria de agradecer particularmente pela paciência que comigo tens no amor físico, e de novo a tua flexibilidade, pois começaste a dançar, a cantar e a ler comigo e para mim, e isso fez-me sentir com intensidade e realidade, mais do que simplesmente treinar a sensualidade pela sensualidade. Por vezes, o caminho para uma determinada expressão de amor é passar por outras e tu fazes isso na perfeição e esperas até a flor despontar na estação certa.

Com muito carinho

Hoje queria conseguir escrever a uma criança. A uma criança de olhar triste.

Este menino de 12 anos a quem gostaria de escrever vive mesmo em frente à minha casa. Já não o via há alguns (muitos) anos.
Em volta da casa, de jardins longos, construiram muros altos que cercam o seu interior. Não brinca na rua, como os outros meninos da sua idade. A rua até é calma e não circulam muitos carros, mas anda num colégio, estuda piano e só chega a casa já pela noitinha. A mãe pára o carro, abre o portão com o comando e do lado de cá fica apenas o betão em redor da casa. Às vezes reparo que o pai o vem buscar aos fins-de-semana.
A última vez que me lembro de o ver foi até nas Piscinas Municipais. Estava lá com os amiguinhos do infantário. Deveria ter 5 para 6 anos. Lembro-me de chegar a casa e dizer à minha mãe que o tinha visto e que tinha ficado sensibilizada com o seu olhar. Vi um olhar tão intenso. Tão imenso. Triste! A minha mãe diz-me que os seus pais se estavam a divorciar.
Hoje inusitadamente, a propósito de um acidente aqui na rua, encontro a mãe e o menino que se trazem pela mão. Penso que a mãe deve estar de folga do Hospital e o menino de férias escolares. A mãe vem falar comigo.
Cumprimento-a quando passamos de carro uma pela outra aqui na rua. Lembro-me de ser miúda e ela já andar na Faculdade. De ouvir dizer como era aplicada. Que estudava horas a fio e iria ser médica. Mas nunca tinha falado com ela. Pelo menos que me lembre. E eu iria lembrar-me se tivesse falado.
Ela vem falar comigo. Sabe coisas sobre mim. Sei que às vezes encontra a minha mãe na rua e falam. O menino corre para lá do portão. Tem um amiguinho para brincar. Não é de cá da rua.
Não sei como, mas a conversa com a mãe começa a desenrolar-se com enorme fluidez e empatia. Penso que a mãe precisa desperadamente de falar. Começa a falar dos filhos. Existe um outro menino que só conheci quando era bebé. Diz-me que este "é diferente". Diz-me que por vezes nem sabe como lidar com a sua "sensibilidade", com a sua "maturidade". Fala do divórcio. Como toda essa experiência o afectou e ainda afecta. Mas diz que "sempre teve um olhar triste", mesmo "antes até". A criança volta ao encontro da mãe e traz o seu olhar triste. Sorrindo, pulando, o seu olhar triste volta de encontro ao amigo. A mãe vai relatando episódios que me vão enregelando por dentro. Que quando o seu menino tinha 10 anos se abeirou de si e lhe disse: "não sei porque é que as pessoas nos magoam, nos humilham. Não percebem que nos fazem sentir tristes?" Ainda por cima está uma tarde fria!
Volto a casa e penso que a tristeza existe nos olhos deste menino. Que não deixará nunca de existir. Que tristeza não tem que ser sinónimo de infelicidade. Que a tristeza não tem que ser uma condição, mas que às vezes é uma coisa muito fundamental. Que acontece a todos nós estarmos tristes porque a vida nos aflige, porque perdemos a rota de nós, porque às vezes é até mais cómodo, mas há alguns de nós que são tristes.
E hoje queria conseguir escrever, dizer não sei o quê...

terça-feira, 25 de março de 2008

All we have is now
All we've ever had is now
All we have is now
All we've ever had is now.
Carmen,
Tenho pensado tanto em ti ultimamente. Acordo e ouço esta música que me mostraste, All we have is now dos The Flaming Lips.
Sempre foram muito especiais para mim esses momentos. Em que chegavas a mim, dizendo: "trouxe este cd para ouvires"; "tenho este livro para leres". Mesmo antes de ler ou ouvir, sentia estas aproximações como uma entrega tão forte, que já adivinhava o seu efeito em mim. Sabia que tudo o que me davas, tudo o que me dizias, tinha uma direccionalidade muito marcada, que te vinha de dentro, porque tudo te vem de dentro. Porque és a pessoa que vive mais perto de si mesma que eu conheço. E sei que foi à custa de muita turbulência que conquistaste esta paz de viveres tão intensamente contigo.
Sempre me emocionaste. Verdadeiramente, pela verdade de ti. Mas havia dias em que não conseguia, em que não podia. E tu sempre soubeste isso. Sei que houve algumas coisas que nunca me disseste, não por falta de confiança, ou entrega, mas porque sabias que despertavas também em mim, a vertigem, o precipício. E por isso em determinados momentos tivemos que estar longe uma da outra. Não era a idade que nos afastava. Tinhas apenas mais cinco anos do que eu. Era o tanto, tão intensamente, que tinhas vivido.
Trabalhávamos juntas e quase que rio à gargalhada a lembrar aqueles dias cinzentos em que chegavas com o teu peso de ser, a dizer excessesivamente de ti e de tudo. Com a tua vontade de incendiar o mundo, a começar pelas pessoas à tua volta. Por vezes eras existencialmente insuportável. Havia alturas em que te odiava para logo me apaixonar novamente por ti. E despertavas tanta coisa em mim. Isso tornou-se um vício para as duas. Lembro-me das nossas discussões. O que para ti era um registo mais que normal, afectuoso, até. Dizias que só discutias com as pessoas às quais permitias entrar na tua vida. Já não discutias apenas por discutir. Eu conseguia dizer muito pouco. Ficava aterrorizada pela tua capacidade de discutir. Ainda assim nunca mergulhámos na loucura, que sempre te fora tão familiar. Sempre foste tão lúcida na relação comigo.
Penso na intensidade com que dizias o sexo, o corpo e o prazer. Como dizias a luta política e os valores que mantinhas intactos desde a adolescência. Como fumavas os teus cigarros e te revoltavas quando diziam que não podias fumar. Os palavrões. A linguagem que usavas desmedida.
Mas tu sabes que o que sempre mais me tocou foi a forma como amavas. Como aí sim, eras frágil sem te esforçares em contrário. Tão intensa e tão certa de tudo o que é essencial. Como me marcou esta frase que um dia me disseste: "Eu tenho-o a ele e à minha filha. Não preciso de mais nada". Porque eu sei que não precisas mesmo de mais nada. E é essa verdade que guardo de ti.
Já não estamos juntas há algum tempo.
Mas eu sei que poucas pessoas alguma vez deixaram(ão) esta marca indelével em mim. Que me colocaram(ão) tanta vez perante mim mesma, perante a certeza de que............
All we have is now
All we've ever had is now
All we have is now
All we've ever had is now.

sábado, 22 de março de 2008

Gente. Muita. Todo o Mundo aqui.
Gente que canta na rua, que fala com quem não conseguimos ver. Gente a correr, sempre e cada vez mais. Gente que entra e sai dos sítios onde se come com ritmo de maratonista. Os ténis estão lá, a meta também.
Mais gente, ainda mais rápido, mais, mais e ainda mais.
Gente sem calma para perder tempo a explicar o que se não percebeu à primeira.
Gente que mantém a todo o custo a cara que diz aos outros que está tudo bem. Todos sabem que não está.
Gente com um entusiasmo podre na voz. Usam-na para emitir mais sinais aos do outro lado para que não se preocupem.
Gente que, por vezes, suscita algum interesse. Não saber o que fazer com isso. E sempre a voz, lá atrás, a garantir que está tudo bem. Não ter a certeza absoluta disso.
Fazer um esforço para que os olhos não descaiam, para que não digam "se calhar não está tudo bem.." Manter a postura. Corrigi-la um milhão de vezes. Uma mais ainda. Hesitar entre o desleixado e o rígido repelente de contacto.
Com a cara a mesma coisa.
Tentar perceber com que expressão estamos. Oscilar entre o fácil e o demasiado disponível e o ausente e o inalcansável. Cansaço. Tentar percer tudo isto nos outros. Alívio. Não muito.
Querer o meu canto. Ser arrancado de lá com um "Então? Não falas? O silêncio como coisa má. O objectivo é exterminá-lo.
Muitos filmes na cabeça. Falta o abraço do sofá de sempre e o comando para mudar de canal ou desligar.
Gente.
Muita.

terça-feira, 18 de março de 2008

INconclusão num teste de filosofia à pergunta: Para ti, o que é a Arte?

Ao vestido branco ao vento da Marilyn Monroe
aos pés descalços da Cesária
a um passeio pelo museu do Louvre,
à cachupa da minha tia
a cena do DiCaprio de braços abertos na popa do Titanic
aos muitos dribles de Messi
a uma manga verde lavada no mar
aos namoros de Neruda
à vista dum avião por cima das nuvens,
a Van Gogh

às crises existenciais do meu irmão adolescente,
às penas dos índios americanos
a Shubert depois de um charro deitada no chão da sala
à queda do muro de Berlim
à “minina bu sta bunita” de Tcheka
ao episódio 348 do “Tom & Jerry Show”
à Praia Grande numa segunda-feira de sol em que estás com a perna engessada,
ao sorriso perdido da Mona lisa,
à colecção de Jean-Paul Gaultier primavera-verão 1998,
aos balaios de fruta da rua da Praia,
aos balaios de fatiota da Praça Nova,
ao Jaguar XJ 1968 preto de estofos beges e jantes cromadas de 17 polegadas
as palavras de Cristo
às piadinhas ridas horas a fio no Corsa do Johnnyboy no miradouro 1
aos cometas, satélites e estrelas no teu céu,
a frase “I have a dream!” de Martin Luther King
aos recantos do Mundo onde não há Coca-Cola
aos recantos onde há…
Às muitas ilhas fantásticas do Germano
Às gueixas com batom vermelho sobre porcelana
À “Imagine” do Lennon
Ao cuscuz com mel de cana e queijo de terra regado a chá de belgata
Ao trotear de Fred Astaire
Ao idealismo de Cabral
Aos morangos frescos cobertos com molho chocolate quente
Ao cruzar de pernas da Sharon Stone no Instinto Fatal,
À operação ao cancro
À mestria de Roger Federer
À melancolia e màgoa de Callas
A sumo de laranja acabadinho de espremer numa manhã de ressaca…

Ao genialismo de Da Vinci
Às suzudas com sucrinha,
Ao Sinatra a cantar a “My Way”
Às catadoras de Chá nas montanhas do Sri-Lanka
Aos spots publicitários
Ao evangelho de Judas
Aos “Cem Anos de Solidão” de Garcia Marquez
Ao colà de Sanjon e aos rosários com papel vermelho que ta pintá bico,
Às Lisboas de Pessoa, e nos Pessoas das ruas de Lisboa,
Aos penteados do Yannick Djaló
Ao beijo final do “E tudo o vento levou…”
A flores zuccini recheadas com queijo mozzarela,
Ao Surrealismo e ao perfume de Dalí
Às piadas do meu colega de carteira Ivan,
À irredutibilidade de Quixote de la Mancha
às putas da marginal de mini-saias vermelhas e cinto dourado ou prateado de 300 escudos na Pam Pam Mista China igualzinho ao meu,

Ao auto-retrato de Frida Khalo,
A um Alabastro ,reserva 1998 tinto a 27,5º
na “Garota do Ipanema” de Jobim
ao escovar de cabelos da tua mãe,
Às loiras, ruivas e morenas na Playboy
aos textos da Queen Frog e da Cristal de Fogo
ao telemóvel Razor V3 da Motorola
aos comentários
ao papel higiénico preto ou com riscas de arco-íris
às mornas de B.Leza
aos saltos do Spiderman 3
ao sorriso desamparado do teu filho,
à dança do ventre,
ao IPod
ao beijo na testa do teu irmão
ao desespero de uma viúva agarrada ao caixão
ao sorriso do Al Pacino no Godfather II
ao vontade indómita.blogspot
Aos U2 no primeiro e não neste ultimo CD,
ao teu cão,
à caca do teu cão,
ás formas dos carros,
aos chips
papagaios de papel
garfos
Á musicalidade única de Orlando Pantera
os rabiscos que fazes num papelinho enquanto falas ao telefone
Às avenidas e ruas de Nova Iorque a passar por Nova Deli e desaguar nos mercados de Dakar

Ao amor e cumplicidade dos meus avós
Aos Chupa-chupas,
Ao bêbado que pede moedas à própria sombra,
Às imagens que nos trouxe Costeau do fundo do mar…
A andar de bicicleta de braços abertos e de olhos fechados
nos livros
cadeiras
na ecografia em que finalmente vês os pés, os dedos e o bater do coração do teu filho,
a casas,
Arvores,
ruas,
talheres,
nuvens,
peixes,
sapatos
borboletas,
guarda-chuva…………….. (ou guarda-sol?)
moscas mortas ao pé da janela,
ao doce de leite da tua avó…Arte.
Arte.

A cada respiro, a cada segundo desta criação, permanentemente Arte.Arte da Experiência Humana , e sensibilidade desta, na interligação e interacção de experiências humanas vividas ou testemunhadas por todos nós.Arte de tudo que nos rodeia, e que em nós desperta sentimentos, reacções, estas mesmas Arte da mesma forma.
Arte é tudo, e tudo é Arte.
Arte da sobrevivência humana, Arte como criação e transformação constante,
Arte sublime,
Arte banal,
Arte bela,
feia,
incisiva,
perfumada,
chata,
intrigante,
obsessiva,
compulsiva,
irritante,
abstracta,
perdida,
pretensiosa,
alegre,
tendenciosa,
arrogante,
cansada,
excitante,
colorida,
ambígua,
mas nunca,
nunca,
NUNCA INDIFERENTE.

segunda-feira, 17 de março de 2008

You´re leaving on a jetplane..don´t know if you´ll be back again...

Johnnyboy do meu coração
Fui passar o fim de semana a um vale recôndito
esquecido e quase perdido no meio das mil montanhas
da ilha de Santo Antão...
Se para mim é algo de longe...imagino que para ti ainda seja mais...
Pensei tanto tanto tanto no meu Xunga que nem sabes.
Start spreading the news....
That you´ll be very happy in NY...
And i´ll certainly visit you there...
And I´ll find you happier and very successfull...
Johnnyboy my love
You´ll be just fine.
Blow kisses down Boadway for me.
Go for dinner at Giorgionne, on Spring with Greenwich on Tribeca.
Go get some weed on 148st with 7th Av...Harlem rules!
Go see decadent movie stars at APT...14 and 9th...lembras-te daquela vez?
Go for a walk on Park Slope Garden in Brooklyn
and visit Dona Rosa in Astoria-Queens
Have a bruch at Brasserie Maison on 53rd with Broadway...
dont forget the Bloddy Mary
scrambled eggs with pepper
bagel with cream cheese and a pack of american eagles...
E quando for eu a te visitar, terás milhares de novidades...you´ll be just fine.
beijos meu amor, boa viagem.

João, que sigas...a traduzir-te por aí.

domingo, 16 de março de 2008

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Não saber quando regresso ou mesmo sequer se regresso faz com que, por estes dias, a dificuldade resida em conseguir que cada momento não resvale para qualquer coisa de mais emocionante, porque mais definitivo (pelo menos visto do lado de cá ainda sem ter partido). Um simples café afinal é uma festa. Só o acto de pedir um cafézinho sabe tão bem. Tenho já saudades de uma língua que daqui a uns dias ficará para um segundo plano.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Perguntam-me se ando muito nervoso pela viagem que se avizinha. Respondo que não. Estranham. Os outros e eu. Depois apercebo-me que toda a vida tenho andado num registo de véspera de partida sem ter data marcada. Agora com a o bilhete no bolso, tudo parece mais normal.

domingo, 9 de março de 2008

Um dia quero não ter pressa de ir para um lugar onde não tenho de estar.

domingo, 2 de março de 2008

Do afecto.

Como podemos saber ser excessivo para alguém o nosso dar?
E sabendo-o excessivo, como o não dar assim.
Excessivo?
O momento...
Aquele em que sentimos a respiração fria e ofegante da loucura na nossa nuca e em que, julgamos ter nas mãos o poder de decidir se embarcamos ou se continuamos a fingir que somos normais.

sábado, 1 de março de 2008

A que é que vocês se agarram quando uma conversa com alguém, deixou há muito de ser interessante e, por razões que a própria razão desconhece, é absolutamente necessário continuá-la?

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

mais uma pró ar.....

Porque é que mesmo estando apaixonada,
e completamente over o meu ex..
custa-me tanto vê-lo com outra...?
Isso queria eu saber....
Já não o quero...nem nada que se pareça...

Mas detesto cada centímetro da outra que nem sequer conheço e provavelmente é muito boa pessoa senão não namorava com ele...

Quem sabe? Eu cá tenho a minha teoria mas não quero influenciar ninguém...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Haverá um tempo exacto para olhar nos olhos de uma pessoa, que nos é apresentada pela primeira vez, de forma que não se torne constrangedor para as partes envolvidas?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

É muito mau suspirar de alívio por não ter esbarrado em nenhum vizinho desde a porta de casa até à porta do prédio?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Infelizmente, fingir que não se reparou em alguma coisa, é muitas vezes a única saída.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

nunca esqueci o teu nome. disseram-mo antes de ti. numa noite de há cinco anos atrás.

com ele, a tua idade (trinta e poucos anos) e o crédito dos teus dias e noites. vendias o corpo para sustentar dois filhos e um marido toxicodependente.
conheci-te logo de seguida. os teus olhos verdes, banhados de armagura. eras então muito mais velha do que minutos antes, quando soube a tua idade. a tua face enrugada. as tuas vestes tresandando a esperanças perdidas. e sorriste, com todos os teus dentes podres. sorriste.
de todas as mulheres que conheci, num trabalho final de curso, foste aquela de quem trouxe o nome e o rosto.
e hoje do lado de cá do vidro, esbarro na rua contigo. eram três da tarde. estavas sentada no mesmo Largo de há cinco anos. onde continuas à espera de um qualquer cliente. novo, habitual.
fazer render o dia, vendendo a tristeza dos teus dia a retalho. e com ela o teu sexo.
não sei dizer-te porquê Rosa, mas o teu nome hoje andou comigo pelas ruas. fez eco dentro de mim.
tu. mulher, de olhos verdes, mulher.
nome de flor, mulher.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

boomp3.com

Cabo Verde, 1988
Graça Morais

PARABÉNS, Maria :)*


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Chegar

Tirar os graus

Farejar

Olhar

Adaptar

Retrair

Expandir

Entrar

De novo retrair

Tentar relaxar

Não conseguir

Respirar

Fundo

Agora sim, descontrair

Não muito

Parar

Imobilizar

Completamente

Insegurança

Sentir a quietude total como ameaça

Não saber o que se teme

Tremer

Voltar a mexer

Os movimentos a devolverem o conforto

Voltar a tremer

Saber que não é de frio.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Querida Avó,

Apareceste-me esta noite no regaço de um sonho, com o avental à volta da cintura, gordinha e a cheirar a canela e limão, como vinhas sempre abraçar-me.
Na última noite antes do acidente da tua partida, dormiste comigo. Lembras-te?

Na minha cama; nos lençóis coloridos dos meus doze anos.
Esqueceste a tua escova de dentes na minha mesa de cabeceira. E não vieste mais buscá-la. Escondi-a no fundo da gaveta durante algum tempo. E os lençóis...Disse à minha mãe que já não tinha idade para dormir em lençóis com ovelhinhas e nuvens. Eram os que mais gostava!
Nunca tinhas dormido comigo antes. Vieste nesse dia ajudar a tua filha a cozinhar e ficaste, porque já era tarde.
Nos dias que se seguiram, nos muitos dias dos anos que se seguiram, li esta coincidência como uma espécie de mau presságio. Será que tinhas partido, porque tinhas dormido comigo?
Tu, que nunca tinhas dormido comigo antes!
Cresci com o itinerário da tua partida marcado em mim, na rota da minha cama e dos meus medos.
Tu sabes, avó, que a morte havia já por outras vezes habitado a minha almofada de criança.Não foste a primeira a partir.O tio e a prima...Tu estavas lá para me abraçar.

E não podia falar com a minha mãe. Lembro o prado inundado de lágrimas que eram os seus olhos. Não queria que eu estivesse ao seu lado, para não ter que esconder os soluços. Passado algum tempo, talvez pudesse ter falado, mas fazia tudo para não acordar nela a dor da tua ausência sempre tão presente.

"Como és parecida com a tua avó, filha".
E de repente um sorriso nas minhas bochechas. Ouço esta frase repetidamente.
Ainda mais nos dias em que como fruta e mais fruta e tanta fruta.
Se estivesses aqui, avó, poderíamos de vez em quando escapulir-nos para debaixo de um qualquer pomar.Era um lugar só nosso. Eu sentava-me no teu aconchego e fazíamos uma salada de fruta e poemas, de poemas e fruta.
Recordo tantas vezes as palavras que tinhas sempre para me dizer à volta do teu fogão.
Tenho a certeza que se gosto tanto de poesia é por ti, avó.

Fiquei tão feliz que tivesses aparecido. Queria tanto dizer-te que hoje sei que me escolheste. Que foi a mim que quiseste dar o teu último colo. Não, não foi coincidência teres dormido comigo. Já não tenho mais medo, avó. Agora é com ternura que recordo a tua última noite nos meus lençóis coloridos. E se pudesse, vestiria novamente a minha cama com eles.
Hoje vou colocar um avental dos teus para te abraçar à volta do fogão.E da próxima vez que apareceres, vou ter uma taça de cerejas à tua espera.Ou então,vamos de mão juntas passear pelos pomares.
Gosto tanto de ti avó.
A tua neta.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Finalmente a resposta!
A excitação de um mail teu a antecipar um pedido de desculpas, um convite para qualquer coisa ou só para repararmos o que a distância provocou.
Nada disso...

O entusiasmo que esmoreceu entretanto, vai fazendo o seu trabalho de me cerrar quer os olhos quer o maxilar.
Desconforto a instalar-se com a antevisão de um texto que não vai ser bom para o meu coração, que de tanto bater não pára, como no filme, apenas bate, tantas vezes para nada, como na canção.

A roda do rato mostra-me mais um pouco de texto. Consigo até vislumbrar a silhueta das palavras lá para o fim mas faço um esforço para me concentrar na parte que estou a ler, como num filme que se viu já vinte vezes e se finge que se desconhece o final.
Surge a possibilidade de sermos amigos, com ela algumas náuseas e recordo que já tive esta
conversa mas estava do outro lado e apenas aconselhava um amigo a, pelo menos, ser amigo, assim poderia vê-la mesmo que não lhe tocasse. Tudo tão simples nos conselhos, quase pueril. Connosco todos os nossos, supostamente sábios, conselhos se revelam inúteis, ridículos mesmo.

Tempo agora de me penitenciar, tentando, exaustivamente, encontrar todos os detalhes onde possa ter falhado, onde estive menos bem, onde coloquei indevidamente uma qualquer palavra. Lembro-me de tudo! Chego a sorrir por ter acontecido (ahh a alegria dos clichés..).

Passado que está agora algum tempo, decidi parar de te esquecer. Decidi abraçar esta manhã que me submerge de cada vez que me lembro de ti, quase como uma parte do teu corpo que nunca abracei, a derradeira forma de contacto com alguma coisa tua. Tem sido útil até. Nenhum filme, música ou conversa com alguém (às vezes qualquer beijo de novela!) foram os mesmos depois do que aconteceu. Tudo mais rapidamente emocionante. Não raras vezes apercebo-me que me encontro no modo lágrima fácil e isso sempre é melhor que passar pelas coisas sem lhes tocar, sem sair tocado, impedido pela barreira do tédio, da indiferença.

Acima de tudo não te censuro. Percebo-te até. Também eu me desliguei da mesma forma de algumas pessoas no passado e penso tanto nelas como tu pensas em mim agora.
Só nunca me tinha doído tanto.
Até um dia.

"...
Vai, vai, vai amar
vai, vai, vai, vai sofrer
vai, vai, vai, vai chorar
vai, vai, vai

Não vou, que eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecer a tristeza de um amor que passou
Não, eu só vou se for pra ver uma estrela aparecer na manhã de um novo amor..."

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Querida Vida,


Há quem nos diga que “as coisas acontecem!”, pelo menos o meu companheiro disse-me isso uma vez. Contudo, quando elas começam a suceder-se interminavelmente entendemos que não é ao ganho da lotaria que este dito se refere, nem a uma promoção de emprego, mas sim a uma teia de acontecimentos destruturantes a que cabe mais a nós dar um sentido se não nos quisermos ir no meio da destruição. No nosso caso, habitamos numa casa, que bem há pouco tempo tinha um gangue com sede na porta do prédio de 3 andares e uma cave, temos baratas, osgas, borboletas da noite, bichos da alcatifa e outros mais minúsculos, a água sai branca e pagamos por tudo isto 425 euros mês. Pagamos... Pagávamos, querem aumentar a renda e este mês não a pagámos devido ao estado de choque em que ficámos. Mais, o meu amor, ia a caminho do seu trabalho de Verão, que nos traz o resto do capital necessário para sobrevivermos e... de forma estranha envolveu-se num acidente de onde saiu culpado, mas que descreveu como, uma espera submissa para o embate que lhe destruiu o nosso carro e o impossibilitará de ir trabalhar todo o mês – só havia ido dia 1 de Setembro... Ele gostava do emprego, estava muito agradecido por ir trabalhar e agora... nada. Mais despesas e “coisas a acontecerem”.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Queres saber de mim,
como estou,
que tenho feito after so long....

Queres saber se sobrevivi...

Se amadureci.

Se estou mais forte...

Então aqui vai...

Aqui estou, na melhor fase da minha vida ever...

Trabalho e muito, e o que faço enche-me de orgulho...

Vivo agora rodeada de familia, sossegada, estou apaixonada e finalmente deixei de teimar contigo.

Carta fora do meu baralho.

Desejo e sou desejada, e aprendo todos os dias a amar esta vida á minha janela.

Meu mano Pedro estuda agora no Porto, a se tornar o homem que está destinado a ser, o Raul a se formar como individuo...

E a minha mãe a se redescobrir como mulher pós cinquenta.

Meus avós continuam em Paço de Arcos, velhinhos e lindos como sempre...



perguntam por ti ás vezes...



Amigos vou tendo, uns como um bom Porto,

outros nem por isso.

Rapei a cabeça há dois anos num ataque de raiva por tua causa sabias?

mas agora só uso cabelo solto e cresceu imenso neste tempo!
Ando de scooter agora, passeio imenso pela cidade...

Acabei por nunca tirar a carta...

E assim vai passando.



Proximo mês, já dia 15 faço 27.

mas isso deves saber, ou não?


Idade de parir, de acalmar a alma e de obter ...ou pelos menos começar a obter respostas.
Cada vez mais acredito que as minhas estão na maternidade e em tudo que dela se desdobra.
Tive um cão lindo mas que desapareceu, nunca mais consegui ter outro,
chama-se Xicó, como o personagem do Auto da Compadecida.


O Amor entrou finalmente na minha vida, quando eu já nem esperava.
Manuel é o homem que quero sim.

È Homem, é bom, é forte, é estavel e no sexo é tudo o que me satisfaz.

Se queres que te diga...já nem me lembro de como era contigo.

Verdade.

Sempre tive uma memoria selectiva.

E para te arrancar de mim ainda conheci uns quantos...



Sempre detestaste esta minha maneira de pôr as coisas.

(Falar de sexo assim.......?! dirias tu)


Mas é verdade.
Ele completa-me com duas frases e uma foda.

Completa-me em tudo com simplicidade, e facilidade.
Completa-me like if it was meant to be.
Como se nunca tivesse sido diferente disto.


Ridícula a tua má impressão sobre a "linguagem vulgar"...

É tão literatura como outra qualquer, como disse o outro...

Temos é que nos fazer perceber.

Percebeste?

Tenho 26, quase 27 e a vida vai bem.

Vai bem bem...


Até qualquer dia

domingo, 20 de janeiro de 2008

Meu Che,


Amanhã é o teu aniversário.

Talvez seja por isso que hoje acontece em mim este aperto imenso.
Um aperto dentro, bem dentro, do lado esquerdo da saudade que hoje sou.
Penso no tempo de Nós.No tempo madrugada de tantas descobertas. No tempo saliva.
E ando todo o dia com dores imensas no corpo.Dói-me este tempo ausência.
Quero tanto ligar-te. Quero ouvir a tua voz e o cheiro do teu riso.
Dizer-te, sem te dizer, que tenho saudades da pessoa de ti.
Que quero estar contigo,conversar. Ouvir todas as razões. Quem sabe, apenas, estar.
Talvez não possas mais.Sei-te com outra pessoa.

Os nossos adeuses foram sempre tão trapalhões.
Nunca queríamos partir um do outro.
Depois, foste tu que quiseste partir. E eu ali, na estação, repetidamente vestida de ilusões para te esperar.
E tu não vieste sempre.
Até que deixaste de vir.
E agora são os teus aniversários sem mim.

E escrevo-te hoje, porque sempre nos escrevemos no passado.
As palavras imensas de paixão imensa.

Mas tenho medo de não me aguentar, se me atenderes o telemóvel.
De desmaiar em palavras. E depois penso...E se não me atendes...?
Pelo menos aqui, escrevo e apago.E talvez nem sequer vás abrir esta carta.
Eu entendo.
Um dia perguntaste-me se eu acreditava que fomos feitos um para o outro? - Lembras-te?
Que faço eu agora com a resposta que te dei?!


Se te ligar, atendes-me?



Hasta siempre.
1,
2,
pica e meia,
3.

A tua...(tu sabes)

sábado, 19 de janeiro de 2008

14 conchinha

Bo sabê que un ta gosta tcheu de bô...
Un ta senti que bo ta gosta de mi, un sabe que bo crê bem...
Un sabe que bo ta lá mode bo ca tem ote hipotese, un ca tita questiona quela...
Un ca tita pô em causa nada, un ta sô ta dze o que un tita senti.

Bô ta lá e mi un ta li...
Un ca crê ser egoista, ma êz ansiedade de ca sabe quando bo ta tchega e de creb li ma mi tita desconcentram, e cansam coração...
Mas mais do que quela é bô silêncio, ou melhor...
De certa maneira bô desnecessidade de consolam e acalentam...

Bô meste sossego e estabilidade to be balanced and strong and do what you have to do and for that you need my support...
And you have my support, completely.
But so do I.
I do need support.

Mas assim nem mi un ta pode dob apoio, nem un tem um equilibrio.
I need my balance, and I´m loosing it.

E ca é por diferença de maturidades mas sim por diferença de feitios e maneiras de ser.

Un ca cre más nada, nem ninguém...sô bô.
Un ta senha ma bô tud dia,un ta pensa na bô tud dia.
You got me.

Ma un ca crê fca ta espera pa un mail que un ca ta recebe, nem pa un mensagem que ca ta tchega...
Nem pa un telefonema que ca ta toca.

E un ca tita cre dze que bo divia tchemam ou mandam email...não...

Un ta sô ta dze que no tem diferentes maneiras de demonstrar afecto, e diferentes maneiras de necessitar afecto, e se calhar quel que bo tita mostram nêz momento ca tita tchegam, ma ca tem mal..nôs é diferente,e agora que no tita conchê...
E pa nô ca tem que fca que ressentimentos ou coisas mal resolvidas é medjor assim...
Aonte fui un dia triste pa mi...
Tcheu triste.

E un ca cre estod triste mod bô.
WE dont deserve that.

É por isso un resolve que apesar de mi un ser debossa no ta fca assim...

Un ta espera que bo ta intende o que un tita crê dzê...

Un ca cris mut envia ês mail pa ca parce que mi é needy ou coisa do genero..
mas se calhar mi ê até certo ponto...
Pode ser que manhã un ta retira tudo o que un ta dzê li...
Mas infelizes dos que não mudam de ideias.
Un ta preferi peca por excesso do que por falta...

Un ta preferi dzê tudo o que ta passa pa ca fca que nada guardod e recalcado...
E sempre é un maneira de nô conche cumpanher amdjor...

All my positive vibes to you.

Beijo na careca, trás de orelha, pescoço...

Be good, and don´t do anything I wouldn´t....



...Bom...
Resumindo, que êz mail un crê dze que dum maneira am ca tita espera nada.
Sô bô.
Logo, no ta fca na mesma praticamente...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Sempre disseste que gostarias de ler algo que eu escrevesse.
Pois decidi escrever algo para ti e garanto-te que isto é que nunca vais ler.
Sempre caminhei em ti como em terra incerta.
Por entre chuviscos, sobressaltos.Busquei-te. Busquei-nos, emaranhada nas nossas solidões. Sei-te hoje lama de mim.
Sim! Não quis abandonar-me da chuva intermitente que sempre foste e estou agora alagada de ti.
Sim,sim,já sei...é a mim que devo procurar.Tu estás bem, tu és feliz.Dizes-me.
Agora, assim tão de repente, é que decides ser afirmativo?
Pois eu não quero saber se estás bem sem mim.Não quero mesmo...Faz até bandeira disso, mas não a queiras hastear na minha janela.Pode ser?!Podes pelo menos ser só sensível a este meu pedido?Tu, que não me queres socorrer.

Dizes que não vais voltar a "perder tempo" a ter conversas que não nos levam a lado nenhum.Pois, quanto a mim, dou-te o luxo de não saberes, que também tu me estilhaçaste o tempo em soluços, em revirares de almofada.
Tenho ensaiado repetidamente "voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a
metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração." Ora toma lá...É a Carlos de Oliveira a referência.Tu que dizias sempre que eu te dei tanto a conhecer.Os quadros e as palavras, os poemas.Por momentos quis,sim, pegar fogo em ti.Nunca soube se o fiz por ti ou por mim.
Cheguei a salpicar-te com o melhor de mim. Também com o pior.Sim, temos um pior e apesar disso...Por isso, devemos ficar! Mas diz-me, o que pesou mais nesta fuga que vamos desenhando?

Não penses que apenas porque sou mais ensaiada nestas coisas das palavras, me seja mais fácil rematar NÓS.
Quis falar...quis sempre falar.Eu e as palavras, eu e as palavras.As que fazem barulho, as que constróem silêncios. E as outras.
Fizemos barulho...muito, por vezes pouco.
E agora, somos caídos neste barulho silencioso, de lama feito!
Mas eu não vou querer mais falar.Está descansado. Só vou poder voltar a falar-te, talvez, quando eu me quiser ouvir.

Para que saibas,não te vou pedir licença para estar triste.
Mas vou fazer questão de ora em diante não mais te dar a conhecer o mapa,tantas vezes turvo, do meu caminhar.
E vou deixar o sol entrar, vou!Por mim.E quando me arejar de ti, vou fazer questão de que o não saibas.

E que faço eu agora com todas estas palavras soltas que vou escrevinhando para ti, sem ti?

Estas palavras.Só comigo.
Não percebi nada do que se passou connosco.

Embora essa ignorância tivesse
o seu encanto por vezes.

Nunca me senti realmente querido ou procurado mesmo

tendo sido tu que deste
os primeiros passos. Da última

vez que estivémos juntos então foi flagrante. Senti que me estava

a entregar tanto e não só eu como também tu mas no fim senti-me

como num daqueles encontros fruto de um qualquer engate barato

em que não
há vontade de tocar a pessoa com quem se esteve

tão próximo, pelo menos
fisicamente, minutos antes. E atenção que

eu não tenho nada contra esses
encontros, mesmo nada acredita.

Já os tive e valeram o que valeram na altura e
por saber exactamente

ao que ía não me senti rejeitado no fim. O que aconteceu


no nosso último encontro. A agitação e a estranheza ao contacto.

Disseste que
era por o teu irmão poder estar perto. Disseste ainda

que era eu que tinha ficado
stressado. Não acreditei. Não tinha

ficado nada que não fosse a tentar perceber
o que te estaria a passar

pela cabeça. Obriguei-me a acreditar que era mesmo


por causa do teu irmão poder aparecer a qualquer altura.

Saí de lá mesmo a
acreditar nisso. Mesmo! Nem sequer comecei

a jogar um dos meus jogos
preferidos que é o de me auto penitenciar

e tentar perceber o que correu mal por
minha culpa ou

mesmo inventar uma razão completamente desligada da


realidade. Jogo do qual saio sempre muito mal posicionado.

Fui para o
carro, fumei um cigarro ainda antes de entrar.

Consegui arranjar uma solução,


provisória, que foi a de que toda a gente tem dias em que acaba

por fazer coisas
que ninguém consegue explicar muito bem.

Nem as próprias pessoas grande
parte das vezes. Chegou-me

para ficar em paz, para chegar a casa e pensar que


num dia depois iríamos esquecer aquilo como uma coisa a que

não se dá
importância, porque não a teve, ou mesmo que chegaríamos

a falar no que
realmente se passou e se encontraría uma explicação

mais fácil que todos os
filmes que se fazem quando não se sabe a verdadeira

razão de ser de uma
coisa.

A semana de silêncio que se seguiu aguçou os medos de que se

tinha passado


mesmo alguma coisa irreparável. Veio o fim de semana no Porto. Abrupto.

Um
telefonema no final de Domingo que me parecia ter

corrido até bastante bem a


alimentar a expectativa de um reencontro que se queria

para uns dias depois.


Outra vez o silêncio. Um mail a justificar a metade

silenciosa no suposto dia do
encontro.

Mais silêncio. Até agora.
Só mudez.
Nada.
Não percebo.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Secura



Querido Patrício,

É me difícil aceitar que não aceito as fraquezas/vulnerabilidade das pessoas, nomeadamente de ti, afinal vivi exactamente o mesmo com a minha mãe. Talvez tenha desejado ter um domínio semelhante ao dela na idade adulta. Não sei, penso que há aqui percepções tóxicas.

Ontem gostava que me tivesses dado carinho, não era necessário sexo... Que mania que tens! Se te queres satisfazer não vai ser com sexo de certeza, uma vez que há um mês que estou seca, devido ao stress... No carinho poder-nos-íamos ter relaxado e unido. Aliás, quando me tocaste, no vestíbulo, com as tuas mãos maravilhosas, conseguiste fazer-me sentir um arrepio de prazer. Provavelmente o que pensaste foi: “Ó não, ela quer sexo! Vou fugir. Eu hoje estou cansado e esgotado emocionalmente.” Eu pensava que o carinho era revitalizador... Mas tu não sabes, nem queres saber... Tu pareces não acreditar nele e isso prejudica a nossa relação. Pelo menos na nossa relação devias acreditar em vez de andares a desconfiar que eu não gosto nada de ti. Tu simplesmente não sabes daquilo que eu gosto, não perguntas, e quando te digo algo espontaneamente dizes que estou a agradar.

Agora vou-me calar.

E como é que vais saber do que gosto? Só pelos sinais que pensas interpretar bem... Não me parece. Sem comunicação total as coisa só vão piorar.

Como interpretas os meus espasmos musculares como se fossem sinais de que não estou disponível para ti, é difícil fazer alguma coisa... Eu vou ficando cada vez mais nervosa ao avançar do dia, e o que mais desejo são situações agradáveis, de prazer, e descontracção e o que mais existe à noite nesta casa é o contrário.

Pensas que quero que vás trabalhar e que faço “coisas” por causa disso. Como te enganas. Eu quero é que estejas feliz. E não te vejo estar, nem a imaginar isso no futuro. Agora não estás bem porque não tens ocupação, depois não estás bem porque a tens. Eu gostava que a parte que te cabe a ti de sustentação da felidade fosse deveras mantida, que mantivesses a felicidade, porque se não vou continuar com espasmos porque não posso relaxar.

Consideras-me histérica e dominadora. Eu considero-te paranóico por teres estado demasiado tempo só. Agora tudo o que faço não necessita ser analisado por mim, é analisado ao milímetro por ti. E eu já me tento defender com a minha auto-análise. Aliás, aprendi a me auto-analisar porque tive sempre à volta pessoas supostamente “significativas” que mo faziam sem parar como se isso me fosse tornar mais liberta!

Fiquei este caos.

Se me queres ajudar é só cessares essa actividade!!! Estás proibido, no meu interior, de falar das minhas dores, se o fazes só me irritas mais. Se queres ajudar: dá-me uma massagem, se isso exige muito de ti, dá-me uma carícia, um beijo, não muitos, um bem dado: lento. E deixa-me só a sentir esse beijo. Não custa é só rentabilizar o que cada um tem de bom. Como se eu soubesse tudo de ti ou de mim, como se soubesses tudo de mim!

Nós vamos sabendo da relação, nada mais...

Eu já não posso querer estar só e dormir mais cedo que me dizes, por vezes, que eu estou com maleitas estranhas; quando estou a tentar relaxar – mas sendo isso impossível pela maneira como me olhas. É um inferno! É um inferno interior e exterior! Tão infernoso que o ar seca mesmo sem fogo à vista. Conseguimos trazer toda a porcaria para dentro de casa sem a tentar barricar: ficamos à espera que ela apareça, vendo passar as horas, com a ansiedade a aumentar...

...e vivemos disso.