sábado, 5 de janeiro de 2008

Secura



Querido Patrício,

É me difícil aceitar que não aceito as fraquezas/vulnerabilidade das pessoas, nomeadamente de ti, afinal vivi exactamente o mesmo com a minha mãe. Talvez tenha desejado ter um domínio semelhante ao dela na idade adulta. Não sei, penso que há aqui percepções tóxicas.

Ontem gostava que me tivesses dado carinho, não era necessário sexo... Que mania que tens! Se te queres satisfazer não vai ser com sexo de certeza, uma vez que há um mês que estou seca, devido ao stress... No carinho poder-nos-íamos ter relaxado e unido. Aliás, quando me tocaste, no vestíbulo, com as tuas mãos maravilhosas, conseguiste fazer-me sentir um arrepio de prazer. Provavelmente o que pensaste foi: “Ó não, ela quer sexo! Vou fugir. Eu hoje estou cansado e esgotado emocionalmente.” Eu pensava que o carinho era revitalizador... Mas tu não sabes, nem queres saber... Tu pareces não acreditar nele e isso prejudica a nossa relação. Pelo menos na nossa relação devias acreditar em vez de andares a desconfiar que eu não gosto nada de ti. Tu simplesmente não sabes daquilo que eu gosto, não perguntas, e quando te digo algo espontaneamente dizes que estou a agradar.

Agora vou-me calar.

E como é que vais saber do que gosto? Só pelos sinais que pensas interpretar bem... Não me parece. Sem comunicação total as coisa só vão piorar.

Como interpretas os meus espasmos musculares como se fossem sinais de que não estou disponível para ti, é difícil fazer alguma coisa... Eu vou ficando cada vez mais nervosa ao avançar do dia, e o que mais desejo são situações agradáveis, de prazer, e descontracção e o que mais existe à noite nesta casa é o contrário.

Pensas que quero que vás trabalhar e que faço “coisas” por causa disso. Como te enganas. Eu quero é que estejas feliz. E não te vejo estar, nem a imaginar isso no futuro. Agora não estás bem porque não tens ocupação, depois não estás bem porque a tens. Eu gostava que a parte que te cabe a ti de sustentação da felidade fosse deveras mantida, que mantivesses a felicidade, porque se não vou continuar com espasmos porque não posso relaxar.

Consideras-me histérica e dominadora. Eu considero-te paranóico por teres estado demasiado tempo só. Agora tudo o que faço não necessita ser analisado por mim, é analisado ao milímetro por ti. E eu já me tento defender com a minha auto-análise. Aliás, aprendi a me auto-analisar porque tive sempre à volta pessoas supostamente “significativas” que mo faziam sem parar como se isso me fosse tornar mais liberta!

Fiquei este caos.

Se me queres ajudar é só cessares essa actividade!!! Estás proibido, no meu interior, de falar das minhas dores, se o fazes só me irritas mais. Se queres ajudar: dá-me uma massagem, se isso exige muito de ti, dá-me uma carícia, um beijo, não muitos, um bem dado: lento. E deixa-me só a sentir esse beijo. Não custa é só rentabilizar o que cada um tem de bom. Como se eu soubesse tudo de ti ou de mim, como se soubesses tudo de mim!

Nós vamos sabendo da relação, nada mais...

Eu já não posso querer estar só e dormir mais cedo que me dizes, por vezes, que eu estou com maleitas estranhas; quando estou a tentar relaxar – mas sendo isso impossível pela maneira como me olhas. É um inferno! É um inferno interior e exterior! Tão infernoso que o ar seca mesmo sem fogo à vista. Conseguimos trazer toda a porcaria para dentro de casa sem a tentar barricar: ficamos à espera que ela apareça, vendo passar as horas, com a ansiedade a aumentar...

...e vivemos disso.

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