terça-feira, 29 de julho de 2014

Cara Romana,

A guerra começa entre cada um de nós antes de se tornar mundial. Relaciona-se com recursos e necessidades humanas antes de se tornar nacionalismo e capitalismo. Penso que a nossa história se explica assim.

Desde que te conheci que vi em ti um encanto melancólico. Penso que me apaixonei por ti e pensei que também gostasses de mim. Gostava dos teus carinhos, dos teus presentes sempre oportunos e de alguém que parecia conhecer a minha alma, da tua escuta e das tuas palavras de admiração. Não escutei a minha voz interior quando um dia te convidei para escutares uma canção que tínhamos acabado de criar, e um grito e um nó se formaram na minha garganta. Pensei sempre que era eu que era envergonhada. Que os bons amigos são exactamente com quem devemos partilhar tesouros. Tapei a cara e passou.

Noutra ocasião começaste a admirar o meu companheiro depois de te mostrar a sua face mais feliz. Sentiste amor e tiveste vontade de te unir a nós, mas nunca mo disseste e assim ficou. Ele disse-me que lhe tinhas feito menção a um qualquer acto amoroso entre três mas a mim nada foi dito.

Passado uns meses confrontei-te, negaste: não me lembro nada disso... deve ter sido um momento. Um momento que naqueles tempos talvez tenha estragado a minha vida. O gérmen da dúvida, o gérmen da dispersão, e da desconfiança. Perdoei-te. Não chegaste a fazer nada. E o meu relacionamento terminou melancólico, dorido, quase sem vida.

Esqueci-me: voltei a procurar-te para falar das tristezas e alegrias e caminharmos juntas, comermos juntas, estar juntas num sentimento cálido, fraterno.

E sempre gostava de estar ao teu lado.

Há pouco tempo mudei de casa e estivemos longe uma da outra por mais tempo desde estes cerca de 10 anos de relação. Agora vejo que é uma relação. Vieste conhecer o meu novo lar, o meu novo amor, as minhas novas ambições. Adoraste estar aqui e eu também estava feliz, até que me comecei a sentir mal. Foste embora e já não trocavas ideias comigo mas com o meu novo amor. Alto! O que se passou afinal?
Já vivi algo parecido... Será que por amor te integras no casal sem pedir licença, principalmente a mim. Só porque te tenho carinho? O que pensas que sinto?

Percebi que afinal sempre existiu uma guerra silenciosa com pintura de calma. Uma guerra fria, pelos recursos do prazer, do calor, da atenção, do colo. Recebi muito, eu sei, muitas vezes, mas a que preço?

Agora que abri os olhos escolhi o meu novo amor e tenho de te dizer adeus. No fundo tenho feito o papel de ponte para quem quiser entrar no universo que vou construindo, mas eu, afinal de contas, construí-o com outro propósito: viver nele e ser nutrida nele. Assim não sobra nada para mim. Por isso: ADEUS.

A tua,

Bhakti

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