segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Querido Saulo,

Foste a pessoa que mais me fez feliz e tenho o meu coração e memória presos a todos os bons momentos que passámos. Sei que não és perfeito mas para mim foste o que necessitava sem tirar nem pôr. É por esta razão que te escrevo: quero que me libertes de ti, não porque me tenhas feito mal e necessito continuar, mas porque me fizeste bem e agora tenho que viver o momento presente. O passado é controlável, já passou e não se muda, mas podemos tocá-lo na nossa memória vezes e vezes sem conta. Quando algo correu bem podemos sempre resaboreá-lo. Contudo, sinto que me estou a afastar do aqui e agora. Tu sempre me disseste para continuar, para namorar nesta vida e ser feliz, mas dentro de mim algo ficou bem perto de ti e da casa que partilhámos que já nem sequer existe como tua. Tudo mudou e eu fiquei agarrada ao passado. É isto que não me está a ajudar. Eu sinto que se te deixar de amar interiormente estou a trair-me a mim mesma. Assim, vou acumulando amores e desamores e não limpo a minha casa. Na verdade, uma das coisas que me fez melhor no nosso encontro foi ter deixado o passado para trás por ser por demais doloroso e por isso estava totalmente disponível para receber. Agora necessito de libertar-me do que foi muito prazeroso pois também  me está a quebrar o fluir da vida. Honro a tua memória-síntese mas necessito libertar-me das nossas aventuras e desventuras concretas. Deixo aqui a minha intenção e propósito para o fim de uma relação interior profícua e bela mas que também necessita de um fim. O fim que nos dará ainda mais vida: morte-vida-morte-vida-morte-vida-morte...

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